É comum ouvir de colegas médicos reclamações sobre pacientes e acompanhantes que são agressivos
“Tem uns quatro médicos e vinte enfermeiros e técnicos que conheço que já passaram da hora de levar chumbo”. O autor da frase, que assustou servidores da Saúde em abril deste ano, foi até as redes sociais para ameaçar os profissionais porque estava “revoltado” com o atendimento no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). O teor das postagens chamou a atenção da imprensa local e, à época, virou notícia em diversos veículos da Capital. No entanto, fora do ambiente virtual, longe de celulares, tablets e computadores, a situação é mais comum do que se pensa. E, ano a ano, aumenta o número de servidores públicos da área de Saúde que desistem de seus cargos por conta de ameaças e até mesmo agressões físicas dentro dos seus locais de trabalho.
Na avaliação do presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg, a violência contra servidores é um grave problema. E, salienta, “na verdade, é resultado, também, da falta de investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS)”. “Um paciente chega ao hospital em estado grave, precisa de atendimento e, muitas vezes, o profissional que está lá não tem condições de ajudar aquela pessoa porque falta tudo. Falta algodão, falta maca, falta oxigênio. Já ouvi muitas vezes de alguns colegas, de hospitais públicos e UPAs, que eles estavam tendo de escolher a quem salvar. Quer dizer, isso é desumano com todos. Com pacientes, acompanhantes, servidores. O Estado tem que garantir as condições para o servidor exerça seu papel”, aponta.
Em abril, assim que o paciente ameaçou médicos e outros servidores, o presidente do SindMédico-DF foi, pessoalmente, à 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) registrar boletim de ocorrência por ameaça e incitação ao crime. “O teor daquelas mensagens ameaçava a todos. É um absurdo. Como representante dos médicos, me senti na obrigação de não deixar impune uma atitude que, minimamente, traumatiza quem está trabalhando e se esforçando para oferecer atendimento mesmo em condições precárias”, observa Dr. Gutemberg.
Segundo o vice-presidente do SindMédico-DF, Carlos Fernando, é comum ouvir de colegas médicos reclamações sobre pacientes e acompanhantes que são agressivos em suas abordagens. “São muitos os casos. E o que percebemos é que a população culpa quem está ali, na ponta, pelo caos. Mas, o médico que está no hospital, tenham a certeza, está dando o melhor de si para conseguir atender a demanda. Os servidores, gosto de ressaltar, são parte da solução e não o problema”, diz.
CFM busca solução
Também em abril deste ano, logo após o episódio do paciente do Hran, o Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhou pedido formal às autoridades brasileiras para que fossem tomadas providências em relação às diferentes situações de violência às quais médicos e outros servidores da rede pública de Saúde são submetidos. Segundo o órgão, a iniciativa é resultado “da percepção de aumento significativo de relatos, denúncias e notícias de abusos desse tipo praticados em várias regiões”.
No pedido, o CFM destacou que, para diminuir os casos de violência em hospitais e outras unidades públicas de Saúde, é necessário investimento em infraestrutura e recursos humanos. “Entre os nós que têm comprometido a assistência e o trabalho das equipes estão a falta de leitos, medicamentos, insumos e equipamentos, bem como o número insuficiente de médicos e outros profissionais contratados pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, apontou.
Histórico
Em 2017, Dr. Gutemberg cedeu entrevista à TV SindMédico-DF falando sobre casos de agressões na rede pública de Saúde do DF. À época, um médico havia sido ameaçado por um policial armado no Hospital Regional de Santa Maria. Além disso, no Gama, um segurança do hospital chegou a ser agredido por um paciente.
“O servidor que sofrer ameaça ou violência não pode ficar calado. É preciso denunciar”, ressaltou, durante a entrevista, Dr. Gutemberg.
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