Participantes criticaram a forma como a Resolução 2.227/18 foi feita
“Nossa preocupação é com a qualidade da Medicina que será praticada”. A afirmação é do presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg, e foi feita durante audiência pública sobre Telemedicina, na Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB-DF), na noite desta terça-feira (26). Ele participou da mesa de debates ao lado do presidente da Associação Médica de Brasilia (AMBr), Ognev Cosac, do presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (ANADEM), Raul Canal, da conselheira do Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), Rosylane Rocha, da presidente da Comissão de Bioética e Biodireito, Thais Maia, e da advogada e conselheira da OAB-DF, Maria Claudia de Araújo.
“Esse debate é importante para entendermos a angústia dos médicos quando no lançamento da Resolução 2.227/2018. Telemedicina é a Medicina a distância. É a discussão de informações médicas a distância. Essa resolução precariza a assistência à população, com essa novidade da teleconsulta. Sabemos que Medicina se faz da inspeção, da palpação e ausculta. Com a teleconsulta, não consigo fazer isso. Ficar vendendo consulta à distância é precarizar a relação médico/paciente. O diagnóstico fica comprometido”, disse Dr. Gutemberg.
Na avaliação do presidente da ANADEM, Raul Canal, “para quem se preocupa com a segurança dos doentes, a Telemedicina, como colocada na Resolução 2.227/18, que graças a Deus foi revogada, é bastante temerária”. Além disso, apontou, hoje, o Brasil possui mais de 370 mil médicos em atividade. Ao todo, são 377 escolas de Medicina: 29 delas criadas a menos de um ano.
“Estão matriculando 35 mil alunos de Medicina no 1º semestre. Não me preocupo com a Telemedicina praticada pelo hospital Albert Einsten, pelo Sírio-Libanês. Eu me preocupo com as operadoras que, certamente, irão contratar médicos recém-formados que terão dificuldades em fazer um diagnóstico presencial, por falta de experiência e irão fazer um telediagnóstico”, completou. “A indústria da doença é uma indústria que nos preocupa”, enfatizou.
Para exemplificar o que seria a Telemedicina na prática, disse a advogada e conselheira da OAB-DF, Maria Claudia de Araújo, “recentemente, fui ao médico algumas vezes e ele perguntou por que eu estava indo sozinha, já que ele precisava falar com a minha família. Aí, entendi que o problema era grave. E essa ajuda, na Telemedicina, esse aconchego, não existe”. Em sua avaliação, pontuou, “a cura exige a participação de um todo, exige uma equipe multidisciplinar. Nos meus processos, às vezes, preciso de psicólogos. O sucesso de um atendimento exige uma conversa, presencial, com seu médico”.
O debate terminou por volta das 22h. Médicos e advogados tiraram dúvidas com os participantes da mesa. Inclusive, perguntaram sobre o porquê de a Resolução ter sido editada sem um amplo debate anterior à publicação, no início de fevereiro.