O improviso é a regra nas ações de enfrentamento à covid-19 no Distrito Federal, no Brasil e no mundo. Vistoria feita pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho, na manhã desta quinta-feira, reforçou essa constatação. “Tem faltado agilidade à gestão da Saúde para dar solução a situações urgentes”, aponta o sindicalista.
Mais de três meses depois do primeiro diagnóstico de covid-19 no DF, a emergência do Hospital Regional da Região Leste (Paranoá), ainda não tem sequer paredes inteiras para manter isolados os pacientes com suspeita e diagnóstico positivo de covid-19 dos que estão internados por outros motivos.
Tanto adultos quanto crianças, que ficam separados por meias paredes.O fechamento do vão entre as alas de internação começou, mas está inconcluso.
O primeiro atendimento aos pacientes com sintomas respiratórios, depois que passam na classificação de risco, é feito em tendas que ficam em frente à entrada da emergência. Isso diminui, mas não resolve a circulação de pacientes contaminados pelas áreas internas do hospital.
A área de internação por covid-19 oferece 13 leitos, que não são adequados para pacientes graves. A remoção para o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) tem demorado pelo menos dois dias.
Desrespeito à lei da testagem de profissionais de saúde para o novo coronavírus
O fornecimento de equipamentos de proteção individual, segundo relatos, não deixa de ocorrer, mas é contingenciado. Máscaras N95 não são distribuídas a todos e têm uso prolongado por 15 dias. Não está sendo respeitada a previsão da Lei 6.554/20 de testagem quinzenal dos servidores da saúde. A orientação é que só serão feitos os testes em caso de os profissionais estarem sintomático, mediante pedido pelo Sistema Eletrônico de Informação, com previsão de sete dias para ser feito.
O hospital tem muitos casos de contaminação entre os profissionais que ali atuam, o que tem motivado o redirecionamento de profissionais de especialidades diversas para atuar na emergência sem hábito nem treinamento para atuar na função.
Na sala vermelha, onde ficam até pacientes que deveriam estar em UTI, há queixas de baixa qualidade dos EPIs distribuídos, falta de medicamentos como bloqueador neuromuscular, antibiótico e azitromicina. Respiradores foram fornecidos, mas sem a quantidade adequada de monitores. Faltam aparelhos de eletrocardiograma e ultrassom portáteis e o aparelho portátil de Raio-X tem apresentado defeito. Os servidores não receberam treinamento para uso dos respiradores adquiridos.
Assistência além da covid-19
Além das dificuldades na assistência aos casos de covid-19, os problemas continuam em outras áreas. A emergência da ortopedia tem apenas uma sala de 15 m2 uma maca para três especialistas atenderem ao mesmo tempo. Se cada paciente tiver um acompanhante, são nove pessoas nesse espaço – não se respeita a intimidade dos pacientes e nem ao menos se tem como manter o distanciamento mínimo recomendado para o período de pandemia.
A falta de materiais é recorrente e as cirurgias eletivas (exceto coluna e mão) dificilmente são realizadas, o que prejudica a formação dos participantes do programa de residência médica dessa especialidade.
“Entende-se que o sistema não estava preparado pela emergência sanitária em curso. Isso tem exigido muito dos profissionais de saúde, que se ressentem da falta de agilidade da gestão para equacionar questões básicas como o isolamento e o fluxo dos pacientes acometidos pela covid-19. Isso ocorre no Paranoá e nas demais unidades da rede pública do DF”, aponta o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho.