Após mais de quatro horas de audiência pública, o distrital Raimundo Ribeiro propôs criar uma comissão para tratar apenas do Projeto de Lei Nº 1486/2017, que tenta privatizar o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF).
A conclusão foi quase unânime: a melhor opção está longe de ser a privatização do Hospital de Base. Em audiência pública na Câmara Legislativa, na tarde desta segunda-feira (10), da qual participaram médicos do hospital, ex-diretores, coordenadores de área, representantes de sindicatos da Saúde, foi reafirmado que falta gestão por parte do Governo do Distrito Federal (GDF). Por isso, concluiu o distrital Raimundo Ribeiro, seria melhor criar uma Comissão para tratar do assunto.
Substituindo o secretário Humberto Fonseca, o secretário-adjunto de Gestão em Saúde, Ismael Alexandrino, foi o primeiro a reconhecer que “o problema é complexo”. E justamente por isso, apontaram outros componentes da mesa, precisa de um amplo debate, com a participação da sociedade e dos servidores da Saúde. “O modelo de gestão ideal é o SUS. Ele é perfeito, imperfeita é a gestão. Temos que qualificar e controlar a gestão”, afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Gutemberg Fialho.
Para ele, a tentativa de comparação entre o Hospital de Base e o Sarah Kubitschek, modelo de gestão no qual o governo diz ter se inspirado para criar o Projeto de Lei Nº 1486/2017, também não se confirma na prática. Até porque, salientou Gutemberg Fialho, em termos de resultados, o HBDF se mostra muito mais efetivo do que o Sarah. (veja matéria e memorial com os dados comparativos).
O ex-secretário de Saúde, Fernando Elias Miziara, também avaliou que “cabe à gestão eleger prioridades”. Na avaliação dele, o projeto de privatização do Hospital de Base “é uma tentativa absolutamente equivocada de recuperação do hospital”. Ele apontou ainda que “não há como discutir a criação de nenhuma instituição se você não tem nenhuma proposta orçamentária”. Por fim, destacou, “mexer no hospital de base é o mesmo que destruir o SUS no DF.”
O ex-coordenador de residência médica do HBDF, Claudio Luiz Viegas, ressaltou a importância acadêmica do hospital para a medicina de Brasília e do Brasil, já que, segundo ele, “desde seus primeiros momentos, transformou-se em um tabernáculo de ensino e pesquisa da residência médica”. É importante lembrar que, caso o PL seja aprovado pela CLDF, há riscos reais de os programas de residência médica serem desqualificados pelo Ministério da Ecuação. “Estima-se que, em seus corredores, ambulatórios e centros cirúrgicos, foram formados mais de oito mil médicos, que se espalham por esse Brasil e ultrapassam fronteiras. Tendo ainda ex-residentes em diversos países”, frisou o pneumologista.
Outro médico que se colocou absolutamente contra o projeto foi o cardiologista Osório Luís de Almeida. “O que nos preocupa é a banalização dos valores. A banalização da vida. O modelo precisa ser certo. E não precisa mudar. Não podemos ter o pouco cuidado em trocar de gestão como se troca de roupa, sem ao menos ver se essa roupa está passada ou não”, disse. “Eu gostaria que essa gestão, que o cuidador da minha cidadania, visse isso e percebesse quais os motivos, em cima de uma auditoria, da falta de remédio numa situação de emergência”, indagou.
Visivelmente emocionado, o cardiologista pediu ainda ao secretário de Saúde: “cuide da minha cidadania como eu tento cuidar da cidadania e do coração dos meus pacientes”. E narrou: “Trabalho, de segunda a segunda, na cardiologia, no pronto-socorro do Hospital de Base. E eu sofro horrores por conta da gestão que não me dá assistência para resolver problemas que tenho a obrigação ética de resolver. Temos a obrigação social e ética”, disse.
Também presente no debate, o vice-presidente do SindMédico-DF, Carlos Fernando da Silva, salientou a importância da discussão e afirmou: “o governador não cuidou nada da pasta de Saúde. É um verdadeiro massacre à saúde pública. O Hospital de Base tem história e, hoje, o secretário perdeu de estar aqui e escutar esses relatos. Por isso, faço um apelo para que a Câmara não fique com essa pecha de que acabou com o HBDF. Não podemos deixar isso acontecer.”