Dr. Pinheiro, o médico de Brasília

Dr. Pinheiro, o médico de Brasília

Conheci o Dr. Francisco Pinheiro Rocha em 1988, quando iniciei o internato no Hospital de Base do Distrito Federal, apresentado pelo Dr. Edgelson José Targino Coelho, cirurgião, como o Dr. Pinheiro, e meu conterrâneo de Araruna, nosso berço na Paraíba. Foi um contato superficial, mas a impressão que ficou foi a de um médico de Brasília competente e dedicado e uma personalidade gentil, correta e agradável.

Foi ao longo dos anos, especialmente ao ingressar nas fileiras do movimento sindical médico, que tomei conhecimento da grandiosidade da história do Dr. Pinheiro, que se confunde com a criação do serviço médico hospitalar público do Distrito Federal. A partir de 2009, quando me tornei membro da Academia de Medicina de Brasília, passei a ter maior contato com este homem a quem considero um amigo e por quem tenho grande admiração e respeito.

Foi natural que, ao avançar na ideia de escrever um livro sobre a história da saúde pública do DF, coisa em que vinha pensando há anos, eu fizesse isso contando um pouco da história da vida do Dr. Pinheiro. Assim nasceu o livro Dr. Pinheiro, o médico de Brasília.

É fundamental conhecer essa história para entender e avaliar o que já se fez, em momentos anteriores, e o que se faz hoje na gestão pública da saúde no Distrito Federal. Dr. Pinheiro norteou seu trabalho à frente da Secretaria de Estado de Saúde e da extinta Fundação Hospitalar do Distrito Federal, na década de 1960, pelo Plano Geral da Rede Médico-Hospitalar de Brasília elaborado pelo médico Henrique Bandeira de Mello.

O Plano Bandeira de Mello antecipou o que, posteriormente, se tornaria o padrão da rede assistencial do Sistema Único de Saúde, criado duas décadas depois: redes estratificadas em níveis de complexidade, de forma capilarizada, com atendimento universalizado. Além disso, se propunha que a prestação da assistência pública tivesse um comando único, para o estabelecimento de protocolos e padrões de qualidade adequados.

Para isso, apesar das dificuldades na captação de recursos financeiros, Dr. Pinheiro trouxe para a antiga FHDF cerca de duas dezenas de médicos radicados na cidade e que atuavam de forma avulsa. E, nesse processo, resolveu um problema que havia na época: os valores elevados pagos a alguns médicos a título de pró-labore, o que hoje é mais conhecido como um tipo de gratificação por produtividade.

Quando assumiu o comando da Saúde, Dr. Pinheiro construiu e urbanizou as áreas onde foram erguidos hospitais e centros de saúde e equipou essas unidades com os aparelhos necessários – e sempre cobrou o ajardinamento, porque isso fazia bem aos pacientes. Além de médico competente e gestor hábil, ele sempre foi um exemplo de cuidado, atenção e gentileza com os pacientes.

Acredito que, se a gestão da Saúde no DF tivesse continuado fiel aos princípios do Plano Bandeira de Mello e ao que fez o Dr. Pinheiro na gestão da Saúde, estaríamos em uma situação mais confortável, pois foi um exemplo de ética, honestidade, competência, zelo e compromisso com a coletividade. Essas são qualidades que ele demonstrou em todos os âmbitos: na atividade médica, na gestão da saúde, na grande colaboração que deu à educação médica do DF e no trato com as pessoas.

Meio século depois da gestão do Dr. Pinheiro, vemos o comando da Saúde dividido entre a Secretaria de Saúde e o IGESDF e as tentativas de terceirização por meio de organizações sociais da Saúde e parcerias público-privadas. Acompanhamos o noticiário sobre falta de equipamentos, conflitos dentro das unidades de saúde, vemos os prédios dos hospitais se degradando sem a devida manutenção. Assistimos gestores planejando implantar gratificação por produtividade em vez de oferecer salários adequados aos médicos e demais profissionais de saúde.

Olhar para o que a história nos ensina evitaria os erros atuais e os problemas futuros que eles indicam. Ao fazer uma homenagem em livro ao Dr. Pinheiro, ainda que modesta para o seu merecimento, fico feliz se tiver contribuído também para que os leitores, sejam pacientes, profissionais de saúde ou gestores públicos, tenham uma referência das ações e propostas que já fizeram a saúde pública do Distrito Federal ser um exemplo para todo o País.

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