
A imagem acima é o retrato do que o Governo do Distrito Federal (GDF) tem feito com a saúde pública do DF. Um sistema deixado ao abandono, onde o caos é produzido deliberadamente para justificar terceirizações. Recentemente, um jornal local publicou: “Desinteresse de convocados fez Saúde contratar pediatras terceirizados”. A manchete tenta culpar os profissionais. Mas precisamos falar a verdade. E ela é uma só: a gestão cria as situações que afastam os médicos (e outros profissionais da saúde) e depois apresenta a terceirização como a única solução.
Famílias enfrentam filas intermináveis. Nas pediatrias de UPAs e hospitais, há dias em que apenas um médico atende mais de 15, 20 crianças. E, sim, faltam pediatras em toda a rede pública. Aliás, não apenas médicos dessa especialidade, mas de várias: anestesistas, clínicos, ginecologistas, oncologistas, psiquiatras e radiologistas. E não faltam médicos no DF! Segundo dados da própria Demografia Médica. O que faltam são condições de trabalho no SUS-DF e vontade de manter e atrair médicos, com salários competitivos.
A precariedade das unidades de saúde do DF é alarmante. Consultórios são improvisados em almoxarifados, salas sem ventilação, cadeiras quebradas (como vimos na imagem), corredores superlotados e macas inutilizáveis. Soma-se a isso a falta de equipamentos, o que compromete diagnósticos e tratamentos. Medicamentos básicos sempre estão em falta. A realidade é desumana, tanto para médicos quanto para pacientes. E é no meio deste caos que o GDF quer contratar mais profissionais Lembrando que a Medicina é uma profissão. E por mais que se fale em “missão”, médicos não são super-heróis. Somos pessoas comuns, como você. Com família, contas a pagar, doenças, problemas pessoais… Somos de carne e osso.
A verdade é que os profissionais estão exaustos. A falta de médicos – problema criado pelo próprio GDF – obriga aqueles que permanecem a lidar com jornadas sobrecarregadas. Em meio a tudo isso, o reconhecimento da gestão, que poderia ser um alívio, não existe. No ano passado, o SindMédico-DF tentou negociar melhores condições. O resultado? Pouco diálogo e promessas vazias.
O GDF insiste na terceirização. E o SindMédico-DF tem questionado isso juridicamente: cobrando explicações e transparência sobre esses atos. Mas, sem respostas. Por outro lado, para justificar suas ações, o governo alega à população que é a única saída. Mas estudos mostram o contrário. Terceirizar gera inconsistências no atendimento, insatisfação entre pacientes, falta de compromisso com os resultados e diversos outros problemas. Além disso, compromete a qualidade do serviço público e transfere recursos (nossos) para a iniciativa privada. O ciclo de precarização apenas se perpetua.
Aqui, serei repetitivo: o caos na saúde não é acidental. Primeiro, o governo negligencia a infraestrutura e os servidores. Depois, usa a crise como desculpa para terceirizar. É uma estratégia política que sacrifica a qualidade de vida de todos nós e desvia recursos públicos, volto a dizer, para empresas privadas – cujo único compromisso que possuem é com o lucro. E saúde, acredito eu, não é uma mercadoria numa prateleira sobre a qual podemos negociar.
A gestão da Saúde do DF afirmou que há aumento da incidência de alguns vírus no início do ano. Isso é verdade. Mas não é nenhuma surpresa. No DF, o vírus sincicial respiratório (VSR) causa infecções graves (sobretudo em crianças) todos os anos, especialmente entre fevereiro e julho. E nós, médicos, temos alertado sobre isso há anos. Mesmo assim, o governo não planeja e não se organiza. Tentamos dialogar, cobrar, propor estratégias. Foram inúmeras tentativas. Mas as respostas são sempre promessas vazias.
A ampliação do atendimento infantil (e da rede SUS-DF como um todo) precisa ser permanente, não uma solução improvisada. Terceirizações, ainda que temporárias, não resolvem e apenas reforçam o ciclo de precarização. Por isso, reafirmo: a crise na saúde pública do DF é fruto de uma estratégia política. E se não nos informarmos da maneira correta, buscando a verdade, corremos o risco de acreditar nas narrativas construídas pela gestão pública.
Meus amigos, é urgente investir em infraestrutura, com consultórios adequados, equipamentos modernos e estruturação logística de abastecimento de insumos. E tem verba para isso, sim! Também é essencial valorizar os médicos e outros profissionais da saúde, com salários adequados e reconhecimento profissional. A contratação deve ser direta, priorizando concursos públicos e encerrando a dependência de terceirizados. Além disso, o governo precisa dialogar com os servidores, ouvindo aqueles que estão na linha de frente do atendimento, e planejar com responsabilidade, adotando políticas sustentáveis e voltadas à saúde de todos!
Aqui, quero novamente reafirmar meu compromisso com a saúde pública. A solução não está na terceirização. Está no investimento, na valorização e no planejamento. O momento é de unir forças para exigir que o Estado cumpra o seu dever e coloque a saúde da população em primeiro lugar.
Por Gutemberg Fialho, presidente do SindMédico-DF