Com UPA de Ceilândia em reforma, hospital está ainda mais sobrecarregado e a realidade, dentro do local, assusta
“Isso aqui é um campo de guerra”. O desabafo é de uma servidora do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Com mais de 38 anos de inauguração, o hospital é responsável, hoje, pelo atendimento da demanda da maior Região Administrativa do Distrito Federal, com uma população de aproximadamente 600 mil pessoas. E, apesar de visivelmente precisar de ampliação e uma grande reforma, sucessivos governos ignoraram esse fato. Agora, servidores e pacientes padecem, apertados, dentro dos corredores do local: um verdadeiro retrato do abandono.
Na tarde desta segunda-feira (8), o presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg, e o vice, Carlos Fernando, estiveram no HRC a pedido dos servidores que, mesmo com esforço sobrenatural para dar conta de toda a demanda, são impedidos, muitas vezes, porque não há estrutura e insumos suficientes. Inclusive, estavam faltando luvas para o atendimento aos pacientes nesta segunda. O material foi emprestado à unidade às pressas pela equipe do Samu.
“O HRC precisa de investimento. Ou, por se tratar de Ceilândia, a população precisa de um novo hospital. Vamos denunciar tudo o que está sendo relatado aqui aos órgãos competentes e tentar buscar uma saída”, afirma Dr. Gutemberg. Para piorar a situação, a Unidade de Pronto-Atendimento de Ceilândia (UPA) está em reforma, de portas fechadas. Por isso, a quantidade de pacientes triplica dentro da unidade. Porém, ressalta o presidente do SindMédico-DF, “mesmo com a UPA funcionando, é preciso pensar no aumento da população. O HRC sofre com a superlotação e a falta de insumos há anos”, lembra.
O déficit de servidores é outro problema no HRC: presente, aliás, em todas as unidades de Saúde do DF. “Ouvimos relatos aqui de que, às vezes, é impossível fazer a prescrição para um paciente porque só tem um médico para porta e enfermaria. São 17leitos e mais aquelas pessoas que ficam internadas nos corredores”, conta o vice-presidente do SindMédico-DF, Carlos Fernando.
Além dos pacientes de Ceilândia, o hospital recebe ainda, segundo informações de servidores, pessoas de Padre Bernardo, Samambaia, Taguatinga e Recanto das Emas. Na última sexta-feira, por exemplo, havia 58 pacientes na clínica médica, com apenas dois médicos para atendê-los. “O que acontece aqui, com os pacientes e com os servidores, é desumano. Você vê na cara dos pacientes o cansaço. Você vê que as pessoas estão desesperadas e não pode fazer nada. Tem dias que não tem parede para encostar paciente”, relata um servidor.
Na ortopedia e na cirurgia geral, o problema é o mesmo do restante da rede: faltam anestesistas e material. “Muitas vezes, os pacientes chegam a ficar na fila por uma cirurgia ortopédica por 45 dias. A pessoa chega aqui e, pela demora, o quadro piorou. Sendo que, na verdade, esses procedimentos deveriam ocorrer em, no máximo, 48 horas”, conta outro servidor. No último fim de semana, lembra, apenas no pronto-socorro havia 80 pacientes.
Ao final da visita, Dr. Gutemberg e Carlos Fernando conversaram com o diretor do hospital, Renato Sérgio de Medeiros Souza, e com Superintendente da Região Oeste, Alessandra Ribeiro Ventura. Ambos concordaram que a situação precisa de rápida ação.
“A intenção aqui, de todos os envolvidos, é encontrar uma solução e ir à busca dela. De imediato, o que faremos, por parte do SindMédico-DF, é denunciar aos órgãos de fiscalização e, também, à Secretaria de Saúde o que vimos aqui hoje”, salienta o presidente do SindMédico-DF.