HRG: “UTI de porta aberta” na emergência

Exonerações em série só prejudicam solução de problemas do hospital, que tem estrutura desgastada e quantidade insuficiente de servidores


A sucessão de três diretores em apenas seis meses não resolveu os problemas do Hospital Regional do Gama (HRG). O hospital está limpo e organizado, mas a estrutura física é ruim – piso desgastado e até faltando em alguns pontos, paredes lascadas, pintura descascando, infiltrações vasando – o tomógrafo vive quebrando e a manutenção demora e, mais do que tudo, não tem pessoal suficiente. Nada que a gestão local possa resolver.

Essas foram as observações colhidas na visita do Sindicato Itinerante desta segunda-feira (17), quando o vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, Carlos Fernando, esteve na unidade. “Encontramos 20% dos leitos de UTI fechados por vazamento no teto e falta de monitores. A ortopedia é prejudicada por falta de placas e hastes e até de cadeira e computador”, afirma Carlos Fernando.

HRG precisa de reforma

A emergência do hospital está organizada, mas funcionando acima da capacidade. A sala de estabilização acabou sendo anexada ao que era o box da emergência. Virou tudo uma “UTI de porta aberta”, como descreveram servidores da unidade, e com dificuldade para encaminhar os pacientes para serviços mais adequados.

Faltam leitos no setor. A falta de condições de trabalho é grande e os médicos estão sendo obrigados a documentar em vídeo os problemas para fazer prova em eventual processo administrativo ou outras situações decorrentes da falta de condições para prestação adequada de assistência aos pacientes recebidos na unidade.

A área de internação da emergência está bem cuidada e tenta-se garantir um mínimo de privacidade aos pacientes com cortinas plásticas separando os leitos, mas o local não tem climatização e o calor tanto é incômodo quanto inadequados para uma unidade de saúde. Foi elaborado um projeto de climatização com a expectativa de que seja realizado por meio de destinação de emenda parlamentar.

Equipamento e mobiliário

Na ortopedia enfrenta-se problemas para a realização de cirurgias por falta de hastes e placas em tamanhos específicos. Os atrasos aumentam o tempo de permanência dos pacientes, dificultam a rotatividade de leitos e aumentam a expectativa de sequelas. No campo das cirurgias também há queixas de que cirurgias que poderiam ser feitas por laparoscopia acabem sendo feitas abertas por falta de equipamento.

A falta de espaço para os ortopedistas é mais uma complicação. Não há mobiliário nem computadores suficientes para todos os staffs e médicos residentes e nem para os pacientes. “Ou o médico senta para poder usar o computador ou senta o paciente e o médico trabalha de pé”, relata Carlos Fernando. Os especialistas da área também reclamam da dificuldade de obter exames fora da unidade – às vezes os tratamentos param por falta desses exames.

Há deficiências também em relação aos exames de imagem: no dia da visita o tomógrafo estava quebrado, o que tem sido frequente. Também falta radiologista para fazer laudos e radiografia com contraste.

No centro obstétrico do hospital são realizados cerca de 500 partos por mês. Os partos de risco ficam a cargo do Hospital Regional de Santa Maria, por falta de pessoal – médicos, enfermeiros e técnicos.

Com a falta de atendimento especializado nas unidades básicas de saúde, casos de baixa complexidade, que poderiam ser resolvidos na Atenção Primária, lotam a emergência do HRG.

Leitos fechados e déficit de pessoal

Dos 20 leitos existentes, a UTI tem quatro bloqueados, por falta de monitores e por causa de um vazamento hidráulico para o qual a administração do hospital busca solução.

Segundo informado, o HRG tem déficit de 2 mil horas de trabalho de enfermagem e 5 mil horas de técnicos de enfermagem. De acordo com a Sala de Situação da Saúde, estão lotados no Hospital do Gama:

753 técnicos de enfermagem, que prestam 25.258 horas semanais de trabalho;

275 médicos, com 7.580 horas;

173 enfermeiros, com 5.800 horas.

Cartilha com orientações jurídicas

Durante a visita, o vice-presidente do SindMédico-DF distribuiu a cartilha com orientações e informações sobre a assistência jurídica para médicos sindicalizados.

“Como nas situações vistas na sala vermelha do HRG, onde nos médicos estão até filmando as situações para fazer prova das condições que lhes são dadas para socorrer os pacientes, é indispensável prestar atenção às informações da cartilha”, afirma Carlos Fernando.

O conteúdo completo da cartilha jurídica do SindMédico-DF está disponível no link http://sindmedico.com.br/index.php/legislacao/cartilha-juridica.