Os dois óbitos de crianças que ocorreram na segunda-feira (10/4), no pronto-socorro infantil do Hospital da Região Leste (HRL), no Paranoá, deixaram todos os profissionais da unidade abalados e ainda mais preocupados com as condições de funcionamento do hospital. O HRL passa por uma crise sem precedentes.
Equipamentos sucateados, falta de insumos (como próteses ortopédicas) e, sobretudo, insuficiência de profissionais são a rotina na unidade, que é referência em atendimento ortopédico na rede pública de saúde do Distrito Federal.
Para verificar as condições de trabalho in loco e ouvir as queixas dos médicos da unidade, o presidente e o vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Dr. Gutemberg Fialho e Dr. Carlos Fernando, estiveram na unidade na manhã desta sexta-feira (14).
“Os médicos estão exaustos e preocupados com a falta de perspectiva de preenchimento dos postos de trabalho vagos tanto na área médica quanto nas demais áreas”, conta Dr. Carlos Fernando. “Tivemos relato de médicos tendo que fazer o próprio trabalho e assumir as funções de auxiliares de enfermagem e maqueiros. Isso tem impacto, inclusive, no fluxo do atendimento aos pacientes que aguardam na emergência do hospital.
Na ortopedia, área em que a falta de médicos não é o problema, a falta de próteses e a insuficiência de anestesiologistas impede a realização de procedimentos eletivos e faz se acumular uma fila de espera.
A anestesiologia conta com poucos profissionais. Em geral há um profissional disponível no centro cirúrgico e um no centro obstétrico. Com a sobrecarga do atendimento pediátrico decorrente da sazonalidade de doenças respiratórias, o profissional do centro cirúrgico é demandado para prestar atendimento na sala vermelha da emergência pediátrica. Lé enfrentam também problemas com equipamentos sucateados.
Com falta de clínicos na emergência, o fluxo de pacientes é, indevidamente, direcionado aos cirurgiões gerais, que também são poucos por plantão. A depender do quadro do paciente, só resta a esses especialistas internar os pacientes para posterior atendimento por um clínico ou de outro especialistas, o que provoca congestionamento de pacientes nas enfermarias.
“A situação é caótica. A sobrecarga de serviço está provocando desgaste físico, mental e emocional e o adoecimento dos integrantes dos médicos e demais servidores. É urgente a necessidade de recomposição e ampliação do quadro de servidores para acompanhar a demanda daquela região, que teve um crescimento populacional expressivo nos últimos anos”, afirma Dr. Gutemberg. O relatório da visita será encaminhado pelo SindMédico-DF aos órgãos de controle, incluídos o Ministério Público e Conselho Regional de Medicina do DF, e à Secretaria de Saúde, cobrando ações e controle para correção das deficiências que comprometem as condições de trabalho no HRL.