Mesmo com queda de casos de covid, UPA do Recanto das Emas enfrenta deficiências

Em atividade do Sindicato Itinerante, Dr. Gutemberg Fialho, conversou com médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, em vistoria realizada na terça-feira, 11. A unidade de saúde está sob a administração do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). São necessárias melhorias nas condições de trabalho e de assistência aos pacientes, mesmo com a diminuição dos casos de covid-19. A vistoria foi realizada em resposta à denúncia anônima encaminhada ao sindicato pelo canal disponível no site do sindicato.

É grande o número de pacientes internados na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas por outros problemas de saúde. Convertida em sala de internação, a antiga sala de medicação tinha 12 pacientes internados, dos quais cinco estavam em cadeiras. Na reorganização para o atendimento à covid-19, a maior parte do espaço da recepção foi destinada à medicação dos pacientes.

Há uma carência de equipamentos, como oxímetros, ambus (reanimadores manuais), monitores multiparâmetros. Em número de sete esses equipamentos, especialmente quando ocorre aumento dos casos de covid-19, são levados de uma sala para a outra. Descalibrados, os equipamentos apresentam discrepâncias entre si na leitura dos sinais dos pacientes, o que pode implicar, por exemplo, na realização de intubações desnecessárias, o que representa risco à segurança dos pacientes.

O aparelho de Raios-X está quebrado, o que dificulta a assistência aos pacientes. A manutenção era feita por empresa contratada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-DF), a Tiradentes, que transferiu a responsabilidade para o prestador de serviço contratado pelo Iges.

O problema persiste sem solução desde meados de fevereiro e, segundo informado pela equipe e confirmado pela chefia da UPA, procedimentos que precisam de controle radiológico têm sido feitos às cegas pela falta do equipamento. A administração da unidade informou que o pedido de conserto foi feito e reiterado.

Equipamentos insuficientes e problemas com serviços contratados

A falta de gasômetro nas UPAs trouxe e continua trazendo dificuldades para o atendimento a pacientes com covid-19. A gasometria arterial é o exame para verificar  a oxigenação do paciente.

Sem esse equipamento e com a demora para obter os resultados quando pedido a um dos hospitais da rede pública, aumenta a demora na prestação de assistência adequada e na alta dos pacientes, o que atrasa a liberação de leitos de internação. O fato é grave, considerando que a sala vermelha da covid chegou a ter 14 pacientes internados, sem os necessários exames de gasometria e com monitores descalibrados, em número insuficiente, que apresentam informações divergentes sobre as condições dos pacientes.

Também foi informada falta de esterilização e de materiais adequados para a higienização de equipamentos, a existência de um único laringoscópio para toda a UPA e apenas um ou dois glicosímetro para uso de toda a equipe. O aparelho de eletrocardiograma também apresenta falhas de funcionamento.

A obtenção de laudos de exames por meio online é outro motivo de queixas da equipe da UPA. Segundo relatado, o serviço não funciona adequadamente, especialmente no período noturno.

Para complicar, também se enfrenta no Recanto das Emas demora para o atendimento de ambulâncias. O serviço de transporte sanitário é prestado pela UTI Vida, empresa contratada pelo Iges, e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Neste último caso, médicos da UPA têm que acompanhar pacientes nas ambulâncias, quando não há esse suporte do SAMU.

Condições de trabalho precisam melhorar na UPA do Recanto das Emas

Médicos e outros profissionais da UPA do Recanto das Emas muitas vezes passam dentro de seus carros, no estacionamento, o horário de repouso, dada a falta de camas em número suficiente nas salas de repouso. Eram três salas, uma das quais foi redestinada para depósito de medicamentos. Apenas parte do ambiente é ocupada por caixas.

Embora a administração da UPA afirme que não há falta de equipamentos de proteção individual (EPI), reconhece que o estoque é baixo. Durante a visita, no entanto, foi apontada uma auxiliar de enfermagem que usava um capote cedido por uma colega e não pela farmácia da unidade de saúde.

Também foi relatado que o serviço de regulação do SAMU encaminha pacientes à UPA, mesmo quando não há médicos suficientes para o cuidado com os pacientes internados e atendimento de porta. Por vezes, os profissionais são obrigados a deixar de dar a assistência necessária a quem já está internado para socorrer os pacientes que chegam, o que representa aumento de risco profissional para a equipe e da insegurança para os pacientes.

Não menos importante, a UPA não tem um responsável técnico há quase dois meses, o que é obrigatório para toda instituição de assistência à saúde. A preparação das escalas de plantão é feita de forma voluntária pelo antigo ocupante da função.

O presidente do SindMédico-DF verificou a inexistência de livro de ocorrências para registro dos incidentes e intercorrências nos plantões médicos. O livro deve ser mantido em todas as unidades de assistência. O preenchimento deve ser feito, necessariamente, pelos médicos e constitui um importante documento tanto para preservação da segurança profissional quanto para auxílio aos gestores e para as vistorias e fiscalizações realizadas por órgãos de controle. 

“O relatório da vistoria será encaminhado à direção do Iges, à Secretaria de Saúde, ao Conselho Regional de Medicina do DF, ao Ministério Público e ao Ministério Público de Contas do DF para a adoção das medidas cabíveis para a solução dos problemas”, informa o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho.