O Governo do Distrito Federal segue anunciando obras e projetos de revitalização em ritmo acelerado. A propaganda é de uma cidade moderna e bem cuidada. Mas basta entrar em um hospital público, em uma escola ou posto policial para ver a contradição gritante entre o discurso e a realidade. Enquanto o GDF investe milhões em obras faraônicas de alto apelo midiático, os serviços públicos essenciais — saúde, educação e segurança — funcionam com quadros cada vez mais esvaziados.
Um dos projetos de que o governo mais se gaba é o retorno da piscina de ondas do Parque da Cidade, com investimento superior a R$ 18 milhões. Entretanto, o que falta ao DF não é lazer — é gestão. Falta gente para trabalhar e fazer os serviços funcionarem bem. Afinal de contas, além de diversão, qualidade de vida é ter, também, saúde, educação e segurança, não é mesmo?
De acordo com o Painel de Pessoal do GDF (agosto de 2025), a Secretaria de Saúde possui 80.919 cargos previstos em lei, mas apenas 37.392 estão ocupados. Isso significa que 43.527 cargos estão vagos, um déficit alarmante de 53,8%.
A situação é crítica em todas as categorias:
· Médicos: 10.000 cargos previstos, apenas 4.811 ocupados — déficit de 51,9%;
· Enfermeiros: 5.000 cargos, 4.267 ocupados — déficit de 14,7%;
· Técnicos em Enfermagem: 46.740 cargos, 16.246 ocupados — déficit de 65,2%;
· Cirurgiões-dentistas: 1.300 cargos, 638 ocupados — déficit de 50,9%;
· Especialistas em Saúde Pública: 3.355 ocupados de 4.382 cargos — déficit de 23,4%;
· Auditores de Atividades Urbanas: 147 ocupados de 487 cargos — déficit de 69,8%.
Esses números revelam o tamanho do abandono. O DF tem mais de 43 mil servidores de saúde a menos do que o necessário para manter a rede funcionando plenamente. São hospitais e unidades básicas operando no limite, com mobiliário quebrado, estruturas antigas, profissionais exaustos e uma população que paga o preço em forma de filas intermináveis, mortes evitáveis, demora nos atendimentos e queda na qualidade da assistência.
O impacto dessa carência vai muito além da assistência direta. A falta de engenheiros, arquitetos e técnicos especializados — denunciada desde 2019 pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF) — compromete reformas e manutenções de mais de 180 unidades de saúde. O próprio TCDF determinou, há cinco anos, a realização de concurso público para a contratação de profissionais da área técnica. O prazo passou, o problema continua.
Na Vigilância Sanitária, o déficit é de cerca de 380 servidores, sobretudo auditores de atividades urbanas, o que retarda fiscalizações e o andamento de mais de 3 mil processos. E a Secretaria de Agricultura opera com mais de 80% dos cargos vagos.
A verdade é que o GDF escolheu investir onde há visibilidade, não onde há necessidade. Obras, asfaltos e parques garantem boas fotos e manchetes positivas, mas não salvam vidas, não educam crianças e não garantem segurança à população.
O que Distrito Federal precisa é de servidores públicos valorizados e concursos públicos urgentes. O Estado não pode continuar funcionando à base do improviso e da sobrecarga. Não há estrutura que resista sem gente para fazer a política pública acontecer.
E vale lembrar: a terceirização não é solução — é parte do problema. Ao transferir responsabilidades para organizações sociais e empresas privadas, o governo fragiliza o serviço público, precariza vínculos, reduz a transparência e eleva os custos de forma disfarçada.
Enquanto o governo comemora a reinauguração de uma piscina de ondas, profissionais da saúde lutam todos os dias para manter a rede de pé — muitas vezes, sem condições mínimas de trabalho. Essa é a verdadeira face de um projeto que privilegia o espetáculo em detrimento do essencial.

