Pacientes morrem por não conseguir hemodiálise no DF

Um paciente do SUS-DF pode levar, em média, até 530 dias para ter acesso a exames, consultas e outros procedimentos. Ou seja, quase um ano e meio. Hoje, para a hemodiálise, por exemplo, há uma lista de espera de nada menos do que 881 pessoas, boa parte delas classificadas como “prioridade 1” – casos urgentes. Os dados são do Sistema de Regulação da Secretaria de Saúde do DF e revelam ainda que, para aqueles precisam do tratamento (hemodiálise), o tempo de espera médio é de mais de três meses.

A hemodiálise é o procedimento por meio do qual uma máquina filtra e limpa o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim doente não pode fazer. É indispensável porque a insuficiência renal, tanto nos casos agudos quanto nos crônicos, é uma doença grave e incapacitante. A falta de tratamento diminui a sobrevida e pode levar ao óbito do paciente.

Em agosto deste ano, a demora para conseguir acesso à hemodiálise no DF já havia chamado a atenção do Tribunal de Contas do DF (TCDF). À época, o órgão fiscalizador pediu soluções urgentes à Secretaria de Saúde e denunciou: “a média anual de pacientes crônicos aguardando hemodiálise aumentou quase 300%, entre 2021 e 2022, na rede pública do Distrito Federal”. No mesmo período, apontou levantamento da instituição, o DF gastou R$ 87 milhões com as clínicas particulares conveniadas com a SES-DF para oferecer o procedimento a pacientes da rede pública de saúde. Isso faz sentido para você? Nem para mim.

Neste contexto, é interessante lembrar também que algumas clínicas contratadas pela SES-DF para prestar o atendimento de hemodiálise a pacientes renais romperam seus contratos com a Secretaria de Saúde por falta de pagamento. Uma delas, a MSF Tratamento Renal, de Samambaia Norte, atendia a 137 pacientes do SUS. Porém, no início do ano passado, alegando “calote” da SES-DF, a clínica fechou as portas. Além disso, o Hospital de Base, unidade administrada pelo IGESDF, também teve deficiência na prestação de assistência em insuficiência renal.

Hoje, segundo a SES-DF, sete hospitais públicos oferecem a hemodiálise: Hospital Regional de Sobradinho, Taguatinga, Gama e Asa Norte, Hospital de Base, Hospital Universitário de Brasília e Hospital da Criança de Brasília. Contudo, pacientes que precisam de vagas contínuas para o tratamento encontram dificuldades. Tanto é que, no início deste mês, a imprensa local revelou que alguns pacientes praticamente “moram” no HRT para ter acesso ao serviço. Segundo a notícia, oito pacientes passaram a residir na unidade de Taguatinga com medo de perder a vaga.

O Distrito Federal, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, tem a quinta maior incidiência de insuficiência renal do País. É urgente que a rede pública esteja capacitada para atender esses pacientes. Como disse antes, a doença é grave e os acometidos por ela têm urgência pelo tratamento. E por mais que pareça uma tarefa árdua, a saída é simples: dar prioridade à Saúde. Enquanto vemos um vradeiro engarrafamento de viadutos e obras pela cidade, esses cidadãos (e tantos outros) aguardam pelo dia em que a Saúde será o foco desta gestão.

O Plano Distrital de Prevenção e Tratamento das Doenças Renais foi elaborado dentro da própria Secretaria de Saúde em 2009. Passaram-se 14 anos e ele nunca foi colocado em prática. Nem ele nem uma série de recomendações feitas pelo TCDF para a necessária estruturação do atendimento aos pacientes renais na rede pública de saúde.

O GDF e sua equipe precisam estabelecer prazos e metas: ter um planejamento. E, assim, dar prioridade à questão da assistência a pacientes com insuficiência renal e outras doenças. Se há máquinas nos hospitais, quantas de fato estão funcionando? De quanto em quanto tempo é feita a manutenção? Onde estão as clínicas credenciadas? Hoje, há 84 nefrologistas na rede, que são médicos especialistas no aparelho de trato urinário. Esse número é suficiente? Em todo 2023, apenas um foi contratado apesar de termos 265 especialistas da área na cidade! Entra ano, sai ano e a saúde do DF continua pedindo socorro. Até quando?

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