No sábado, 03/02, o presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg Fialho, foi conferir as condições de trabalho e de assistência nas tendas de hidratação de pacientes da dengue e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia. “O que encontramos foram condições precárias de trabalho e de assistência e muita boa vontade dos profissionais envolvidos”, afirma Dr. Gutemberg.
A primeira parada foi em Samambaia. Além da tenda, salas da Administração Regional foram destinadas à guarda de medicamentos, triagem e consultas médicas. Dois médicos atendiam os pacientes, encaminhavam para a hidratação ou prescreviam os cuidados e dispensavam os que apresentavam sintomas mais leves. Normalmente, a equipe tem apenas um médico por turno. Poucos dias antes, a tenda de hidratação precisou ser coberta por outra tenda, porque chegou a ameaçar cair com o peso da água e o vento.
Entulho ao longo do caminho
No caminho para Sol Nascente, a paisagem já fazia imaginar que o cenário seria diferente do encontrado em Samambaia. Restos de mobília e outros detritos se espalhavam ao longo da pista, apesar de o GDF alardear as ações (tardias) de recolhimento de entulho pelas cidades do DF.
Ali, a estrutura improvisada para o atendimento aos pacientes com suspeita de dengue é ainda mais precária do que a de Samambaia e situada num terreno em declive. Quando chove, a água desce em enxurrada e empoça em alguns pontos. A tenda amarela do SAMU foi coberta por outra tenda e um vigilante teve o cuidado de carregar pedaços de meio fio para prender as abas laterais para evitar que vento e chuva expulsassem as pessoas que aguardavam. Além dessa área, a estrutura conta com uma carreta da Defensoria Pública e uma outra tenda da Defesa Civil. O acesso à carreta, por escada, impede o acesso de pacientes mais graves ou com problemas de locomoção.
Uma dessas pacientes, uma senhora com baixa ventilação e dores, era atendida pela única médica da equipe naquele turno, que tentava estabilizá-la para remoção. “O quadro da paciente indicava claramente que devia estar sendo atendida em um hospital e não em uma estrutura improvisada e sem recursos”, observa o presidente do SindMédico-DF.
Havia ali uma ambulância do Corpo de Bombeiros para fazer o transporte, mas naquele estado a paciente precisaria ser acompanhada por um médico. Essa ambulância não fica permanentemente na tenda e atende chamados em toda a região
A cama de campanha, a poucos centímetros do chão, não reclina e dificultava a assistência, o uso da bomba de oxigênio e também não era a posição ideal para a paciente ficar naquela condição. A paciente teria que ser levada dali pelos braços dos bombeiros, porque o terreno acidentado impede o uso de cadeira de rodas ou maca com rodas.
Com o fechamento das duas unidades básicas de saúde que funcionavam até o meio-dia, em Ceilândia, a previsão era de que aumentaria a quantidade de pacientes na tenda. E, à tarde, haveria somente um médico para prestar assistência na carreta e na tenda da Defesa Civil. Procedimentos que deveriam ser feitos por médicos acabam sendo realizados pela equipe de enfermagem.
Sobrecarga de pacientes e falta de médicos na UPA de Ceilândia
Do Sol Nascente, Dr. Gutemberg seguiu à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia, que funcionava com restrição, porque havia apenas um médico no plantão para o atendimento de porta. Os demais se distribuíam nas salas vermelha, amarela e no atendimento dos pacientes de dengue já acolhidos. Pelo contrato de gestão, a meta de atendimentos da unidade é de 6.500 pacientes por mês. Mas só em janeiro, sem aumento do número de profissionais de saúde em serviço, foram realizados 16 mil atendimentos, o equivalente à demanda de 11 semanas.
“A situação agora é de guerra e, para não deixar a população desassistida, como na pandemia da COVID, um esforço extra é exigido dos médicos e demais profissionais de saúde, que trabalham em condições ainda mais precárias e maior risco profissional. A situação poderia ser menos dramática se o GDF tivesse investido recursos suficientes e executado no momento certo as medidas preventivas que evitariam a proliferação do mosquito e a explosão dos casos de dengue no Distrito Federal”, enfatiza DR. Gutemberg.