UBS vira UPA, UPA vira UTI e HRC “encolhe”

Em Ceilândia, desorganização gestão controversa  agravam problemas estruturais da saúde.

Não é de hoje que falta espaço no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Em visita na terça-feira (13), o presidente e o vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF). Dr. Gutemberg e Carlos Fernando, voltaram a encontrar corredores lotados de macas (era um dia tranquilo) e ouviram uma série de reclamações. Do hospital, Dr. Gutemberg seguiu para o Centro de Saúde 7, no Setor O, e para a UPA da cidade.

No HRT, durante os dias de greve de vigilantes, até o computador da classificação de risco do PS da pediatria foi quebrado por usuários descontentes. Pela falta de pediatras, médicos residentes e estudantes do internato acabam assumindo mais reponsabilidades do que deveriam. Tudo isso sob a pressão de ameaças de agressão física, e até de tiro.

Faltam vagas em UTI infantil e casos graves acabam ficando sem assistência especializada, o que aumenta o risco para os pacientes e coloca os profissionais em situação de insegurança profissional, ética e jurídica.

Na ginecologia, a situação não é muito melhor. Estão ocorrendo, segundo relatos, casos de óbito fetal por falta de capacidade de atendimento e superlotação. A média mensal de partos realizados no HRC chega a 600, cerca de 70% partos normais e não se tem informação exata da quantidade de curetagens e outros procedimentos realizados.

Na sala vermelha, na tarde da vista, estavam dois infartados graves (um internado naquele dia e outro há dois), que não foram removidos por falta de vaga no Instituto do Coração do Distrito Federal. “É importante destacar que o ICDF é a opção que resta aos pacientes, uma vez que a estrutura da cardiologia foi desmontada em toda a rede pública”, lembra o presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg.

A ortopedia do hospital segue aos trancos e barrancos, com dificuldade na reposição de materiais. Na falta de hastes, placas e parafusos, os ortopedistas fazem trabalho de artesão para montar fixadores externos. A falta de escopia também prejudica, e muito, o atendimento aos pacientes dessa especialidade, entre outras. Como no HRT, no Hospital de Base e em outras unidades de saúde, no HRC o aparelho também está quebrado.

CS 7 do Setor O: uma UBS ou uma UPA?

Localizado na QNO 10, o antigo Centro de Saúde 7, abriga as equipes de duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), uma vez que o prédio do da UBS 11 continua fora de serviço. Seis equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), para atender uma região que comporta mais de 50 mil pessoas. Lá o presidente do SindMédico foi informado que, três das equipes estavam sem médicos.

Pior ainda, a unidade está recebendo pacientes graves que não conseguem atendimento no hospital nem na Unidade de Ponto Atendimento. “Não tem gente, estrutura física e nem equipamento para atendimentos de maior complexidade. Os profissionais não deixam de atender os pacientes, mas ficam em uma situação de insegurança profissional”, alerta Dr. Gutemberg.

Também continua ocorrendo falta de medicamentos na unidade. Na tarde da visita, havia um mês que faltava Losartana, para hipertensão, e um ano que não se tinha cálcio.

Gestão centralizadora e desorganizada

Na Unidade de Pronto Atendimento de Ceilândia faltam médicos e outros profissionais. E ninguém sabe como será o funcionamento da unidade, porque a superintendente regional, contraria o procedimento padrão de divulgar as escalas com a antecedência devida, como ocorre em toda a rede pública de saúde do Distrito Federal. Esse fato, que deixa inseguros os profissionais e os gestores diretos da unidade.

Na tarde da visita, havia dois médicos no plantão. Nesta circunstância, precisavam verificar a condição dos pacientes internados nas salas vermelha e amarela, antes de poder atender quem aguardava na porta. Pacientes amarelos se espalham pelos corredores e a sala vermelha funciona contrariando regras sanitárias.

Da UPA, os pacientes graves deveriam ser encaminhados e acolhidos em outras unidades, mas estão voltando. Na véspera da visita, um paciente que havia sido encaminhado para o Instituto do Coração foi devolvido, embora não haja acomodação adequada para internação prolongada. Não há monitores cardíacos, tampouco pontos de oxigênio suficientes.

O SindMédico vai encaminhar o relatório da visita ao Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal e órgãos competentes para que sejam tomadas as medidas cabíveis.