Violência na saúde: até quando?

Violência na saúde

Por Gutemberg Fialho, presidente do SindMédico-DF

Nos últimos anos, acompanho com preocupação a crescente onda de agressões físicas e emocionais aos profissionais de saúde do Distrito Federal. Recentemente, o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) divulgou estatísticas alarmantes que refletem essa realidade assustadora. Aproximadamente 10 casos de agressão contra médicos são registrados por mês na Capital do País. No primeiro semestre deste ano, foram relatadas 61 ocorrências desse tipo, um aumento de 12% em relação aos 54 casos do ano anterior.

Esses números não são apenas motivo de preocupação. Eles sinalizam uma profunda crise no sistema de saúde, sobretudo o público, e uma triste mudança na relação entre médicos e pacientes. A agressão física ou verbal a médicos, que já foi exceção em tempos passados, agora parece se tornar uma ameaça cada vez mais comum. Vale destacar: a violência não apenas prejudica a integridade física e mental dos profissionais de saúde, mas também a qualidade dos serviços de saúde prestados à população.

Além das agressões, outro fator preocupante ressaltado pelo CRM-DF é a quantidade de afastamentos solicitados pelos profissionais da rede pública de saúde. O número total de atestados no ano passado foi de 3 mil a mais do que o total de profissionais ativos na Secretaria de Saúde: 8.163 pedidos. À época, havia 5.094 médicos ativos no quadro da SES-DF. O que representa uma média de 1,6 atestados por médico. O tratamento de transtornos mentais e comportamentais foi uma das principais razões para o afastamento de profissionais de saúde, com destaque para os médicos entre 38 e 47 anos.

Esse cenário deve servir como um chamado à ação para nossa sociedade e autoridades de saúde. O aumento de agressões a profissionais de saúde e o afastamento são sintomas de um sistema de saúde adoecido, que enfrenta desafios sérios: déficit de profissionais e ausência de investimentos. Os médicos desempenham papel crucial e a falta de segurança no exercício de suas funções pode resultar em consequências graves para todos, em especial no Sistema Único de Saúde (SUS).

É preciso compreender que as agressões a profissionais de saúde não são apenas atos isolados de violência. Elas são inaceitáveis em qualquer circunstância e refletem o estado de ânimo de uma população que, cansada das longas filas de espera, vê os trabalhadores da ponta como vilões da história: o que não é verdade. Devemos lembrar que a medicina é um ofício dedicado a salvar vidas e aliviar o sofrimento humano. Os médicos estudam por anos para tomarem decisões difíceis e frequentemente têm que lidar com situações emocionalmente desafiadoras.

É vital que a gestão pública reconheça e valorize o trabalho dos profissionais de saúde. E isso passa pela contratação de pessoal, por condições de trabalho e por salários dignos. Só assim é possível atender bem uma população que, de forma pacífica ou violenta, encontra-se insatisfeita. É urgente que as autoridades de saúde tomem ainda medidas para garantir a segurança desses profissionais e abordem as causas dessa violência. A educação e conscientização dos cidadãos sobre o papel dos médicos, juntamente com a implementação de medidas de segurança nas unidades de saúde de todo o DF, certamente ajudarão a prevenir agressões.

Cenário requer soluções urgentes

O aumento de licenças, especialmente relacionadas a transtornos mentais, destaca a necessidade de programas de apoio à saúde mental para os profissionais de saúde. Importante salientar: apesar de tudo isso, os médicos ainda são os profissionais da rede pública que menos se afastam. A pressão e o estresse constantes associados ao trabalho podem ter um impacto significativo na vida de qualquer pessoa. É preciso, portanto, que haja políticas de apoio emocional a esses profissionais, o que é função do Estado.

Em resumo, a crescente agressão a profissionais de saúde e o número de licenças médicas são indicadores de problemas profundos na rede pública e na sociedade em geral. Abordar e encontrar soluções viáveis para essas questões é essencial para garantir segurança. Aqui, vale destacar novamente: isso é função do Estado. A valorização dos médicos e demais profissionais da área são fundamentais para o atendimento à saúde da população. É preciso entender: médicos são aliados e não inimigos.